PS
PAULO SALVETTI
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Quotes by PAULO SALVETTI
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Marfiza me perturbou desde a infância. Ela sentia uma chama passando por seu corpo. Não era calor normal, de dia estufado e suor escorrendo. Era calor de fósforo quando acende muito perto do dedo. Corria ossinho por ossinho das costas até o pescoço, ela dizia.
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Sobre Adelmino, não o deixe te maltratar. Os homens são tão estranhos. Eles querem ser patrões das mulheres sem pagar salário.
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Marfiza já não podia ver azul nenhum. Nem rosa, roxo, fúcsia. Nem laranja, vermelho, âmbar, dourado. Nem esmeralda, esverdeado, ciano, jade, cáqui. Nem escarlate, triássico, urucum, jambo, carmim, alizarina. Näo via mais quase nada além de branco e preto. Claro e escuro. Dia a dia de páginas de jornal. Escureceu-se.
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[Eu] Tinha selado uma relação com nosso quarto. Aquela janela era a coisa mais amada da vida, teria a levado junto se janelas se movessem com a vista junto.
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Adelmino chegava e engrossava a desordem. Fazia comida para ele e para as crianças debaixo de um berreiro de doer ouvidos. Disse que me matava se eu não virasse gente. Só comendo um quilo de sal juntos para saber quem o outro é.
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Na segunda-feira seguinte, na fábrica, todos já sabiam. Marfiza era um diabo-espalha-fatos, que inferno. Quando ouvi o primeiro comentário na fábrica, fiquei com um vermelho-roxo no rosto. Ela jamais seria capaz de enxergar. Se estivesse na minha frente, faria escorrer do pescoço dela. Boca aberta. Futriqueira. Venenosa. Rouba-vida. Mexeriqueira. Língua de escorpião. Maldosa. Ressentida. Vilipendiadora. Sonsa.